Desigualdades Socioeconómicas nas Doenças Relacionadas com o Tabaco em Portugal
Para o comum fumador, o ato de fumar é mais do que um hábito: torna-se um vício, uma necessidade a satisfazer, com maior ou menor frequência, várias vezes ao dia.
Como qualquer vício, o tabagismo sai caro para o fumador, mas, curiosamente, é nas classes sociais que dispõem de mais escassos meios económicos que o tabagismo mais se faz sentir.
Analisamos aqui um estudo efetuado pelo serviço público de saúde de Portugal em 2011.
Embora as desigualdades socioeconómicas relativas ao consumo do tabaco estejam bem demonstradas desde há vários anos, pouco se sabia, no entanto, sobre as suas consequências. Este estudo permitiu medir as desigualdades na prevalência de doenças relacionadas com o consumo de tabaco entre os portugueses.
Os dados de pacientes sujeitos a internamento foram utilizados para identificar as doenças relacionadas com o tabaco, em todos os hospitais públicos portugueses, durante o ano de 2011. A definição de “doença relacionada com o tabaco” engloba tumores malignos, doenças do foro cardiovascular, doenças cerebrovasculares e doenças do aparelho respiratório.
Os autores do estudo criaram um indicador socioeconómico baseado em áreas, de acordo com dados do último recenseamento e utilizando análise fatorial. A associação entre doenças relacionadas com o tabaco e os indicadores socioeconómicos foi então medida com o recurso a modelos lineares generalizados. A correlação espacial deste indicador foi então aferida através do uso de variogramas.
Dois fatores socioeconómicos foram identificados a nível de freguesias, refletindo a classe social do sujeito (ocupação e educação) e carências como o viver em locais sobrepovoados ou a incidência em atividades profissionais manuais. As classes sociais mais elevadas apresentaram uma menor incidência de tumores malignos e de doenças respiratórias e cardiovasculares.
A conclusão tirada com este estudo foi de certa forma esperada. Existem desigualdades no consumo de tabaco e doenças com ele relacionadas, que refletem existem desigualdades socioeconómicas. O reforço de políticas de prevenção do tabagismo, integrando e promovendo um equilíbrio socioeconómico, poderão ser a solução.