Um dia Mário de Aguiar disse-lhe que pensava lançar uma revista feminina que "coubesse nos bolsos e nas malinhas de mão" e convidou-a para a dirigir. O nº1 da Crónica Feminina saíu a 29 de Novembro de 1956 com Milai Bensabat como Directora e Editora (terá sido a primeira vez que as duas funções foram exercidas pela mesma pessoa numa publicação da Agência) e Maria Carlota Álvares da Guerra como Chefe da Redacção. A revista tinha originalmente 32 páginas de um conteúdo ecléctico a um preço verdadeiramente popular: 1$50. Apesar das tiragens serem inicialmente baixas, a procura ia sempre subindo: tinha sido encontrada uma fórmula vencedora.
Em 1959, para comemorar o terceiro aniversário da revista, Mário de Aguiar impôs a publicação de uma fotonovela (a primeira produzida em Portugal), realizada com colaboradores da Agência e amigos- o protagonista era o desenhador José Antunes. Milai Bensabat aceitou a contragosto essa descida do nível intelectual da revista, baseada na substituição de palavras por imagens, mas as tiragens continuaram a subir e a fotonovela tornou-se uma secção permanente. Ao fim de quatro anos a revista já tinha 80 páginas e tirava 115.000 exemplares por semana. A tiragem ainda subiu alguns anos mais tarde a uns incríveis 140.000 exemplares, em parte à custa da difusão por via aérea no Ultramar- a Crónica era transportada pela TAP em troca de publicidade na revista, o que lhe permitia ser posta à venda quase simultaneamente em Lisboa, Luanda e Lourenço Marques.
O sucesso é exaltante mas a rotina mata o prazer. Em Março de 1966 despediu-se de Mário de Aguiar, de António Dias e dos seus colegas e colaboradores e aceitou o desafio da Editorial Íbis para lançar uma publicação afim, com liberdade para escolher os conteúdos. O resultado foi a revista Magazine, uma publicação feminina que aspirava a abordar os principais problemas sociais da sua época. Os conteúdos tinham frequentes cortes da Censura e um número, que tratava das experiências de modernidade no seio da Igreja, foi mesmo proibido de circular quando estava já impresso. Alguns meses mais tarde os responsáveis da Íbis decidiram terminar a revista na sequência da constante perseguição da Censura e Milai Bensabat nunca mais voltou às lides editoriais, retomando o lugar que deixara na medicina escolar preventiva.
Vive hoje no Estoril e de toda a produção editorial a que esteve associada conserva apenas um número da Crónica Feminina, dizendo que só o futuro lhe interessa. Há alguns anos atrás, foi convidada para um talk-show da RTP e o entrevistador sugeriu, com muito pouco tino, que a Crónica Feminina tinha sido uma revista para pessoas de baixo nível cultural. Só respondeu: "Nunca me arrependi de a fazer- ouviu? Nunca!".
João Manuel Mimoso
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